Ana Botelho, Carla de Sousa, Clara Moura,
Fátima Lopes, Teresa Valente
Curadoria de Carlos Dias e autoras
de 8 Março a 14 Abril 2024
no Centro Cultural Penedo da Saudade, Coimbra
[ Imagem de Teresa Valente ]
O desafio lançado por Carlos Dias a cinco fotógrafas para celebrar o Dia Internacional da Mulher de 2021, culminou com a publicação de um livro que reuniu cinco ensaios fotográficos ancorados no poema O meu amor não cabe num poema, de Maria do Rosário Pedreira, que é também o título do livro. Este trabalho encontra agora novo fôlego nesta exposição.
O pretexto continua a ser a celebração do Dia Internacional da Mulher, e o mote resgata o último verso do poema de Maria do Rosário Pedreira, Nenhum poema podia ser o chão da sua casa, para título desta exposição que reconfigura o formato de interação entre as imagens, decorrente da sua disposição e alinhamento, convocando o olhar a descobrir nelas novas relações dialógicas e exortando a imaginação a deixar-se impregnar por novas emoções.
Feita uma primeira seleção das fotografias que cada uma das autoras gostaria de ver integradas na exposição, procedeu-se, de modo diverso daquele que presidiu à edição do livro centrado na individualidade dos projetos autorais, a um minucioso trabalho curatorial levado a cabo pelas autoras e pelo ora comissário da exposição no qual se procurou alargar o espectro visual e ampliar as potencialidades de leitura das imagens bem como a sua fruição.
Cada uma das fotografias vale por si, mas o diálogo que se estabelece entre elas acrescenta valor simbólico, sugerindo improváveis realidades e lugares apenas acessíveis mediante a infindável e singular capacidade imaginativa de cada pessoa que, ao olhá-las, se entrega livre e confiante à magia das imagens.
Clara Moura, Coimbra, Março de 2024
INAUGURAÇÃO: 8 de Março, 18h, no CENTRO CULTURAL PENEDO DA SAUDADE
➤ 26 de Março, 18h: Conversa com as autoras, no CCPS
➤ 14 de Abril, 15h30: Conversa com as autoras, no CCPS
➤ Horário do CCPS: de Terça a Domingo, das 14h às 20h
➤ De 8 de Março a 14 de Abril 2024
Evento no facebook do CCPS
FICHA TÉCNICA
Vinte e quatro imagens de várias dimensões, impressas por Carlos Dias com tintas de pigmento, em papel fine art de algodão, de 270g/m2, aplicadas em PVC.
Os interessados em adquirir imagens da exposição e do livro, devem contactar as autoras.
AS AUTORAS
ANA BOTELHO
Natural de Vila Real, vive e trabalha em Coimbra. Funcionária Pública, sempre com e para a Cultura, por convicção e forma de vida. Fotógrafa com cerca de duas dezenas de exposições, nacionais e internacionais, é a área de criação artística eleita. E algumas obras publicadas. Desde cedo a memória foi enriquecida e fantasiada pela fotografia, primeiro com as imagens de uma ascendência familiar, depois com as suas próprias imagens, em momentos impossíveis de estar presente e de memorizar, que a leva a criar esses instantes, das pessoas e dos lugares.
anabotelho7 @ gmail.com
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CARLA DE SOUSA
Natural de Luanda, Angola, onde nasceu em 1974, vive e trabalha em Leiria. Licenciada em direito, advogada há mais de 20 anos, encontrou na fotografia a sua forma principal de expressão artística, explorando, através das suas imagens, a poesia do quotidiano, detalhes minimalistas, estudos de luz, auto-retrato e auto-representação. A sua fotografia fala na primeira pessoa, sendo que não procura a reprodução do real, mas antes a melhor tradução do seu mundo interior. O seu trabalho vem, desde 2013, sendo exibido em várias exposições, individuais e colectivas, em Portugal e, no estrangeiro, designadamente, Itália, Espanha, Finlândia e Noruega e vem também integrando várias publicações individuais e colaborativas, das quais se destacam, em 2018, Desimaginar o Mundo, Descriá-lo, AAVV, edição Faculdade de Belas Artes de Lisboa comemorativa do 75º aniversário de António Manuel Pina; em 2019, o ensaio Cartografia para um beijo, o qual assina sob o seu heterónimo Clara Vales, aliando as suas imagens e prosa poética; em 2021, o trabalho colectivo pandémico de O meu amor não cabe num poema que conta com o seu ensaio O poema indizível; e, mais recentemente, em 2022, deu corpo de imagens cénicas ao monólogo de Marta Duque Vaz, O Lado Esquerdo.
instagram.com/carlaoliveirasousa
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CLARA MOURA
Natural de Ribeira dos Carinhos, concelho e distrito da Guarda, vive e trabalha em Coimbra desde 1974, ano em que regressou a Portugal, depois de 7 anos emigrada em França. Desde cedo se interessou pela fotografia, mas só há pouco tempo lhe tem dedicado maior empenho enquanto meio de expressão artística. Nesse sentido, tem vindo a participar em diversas formações e projectos criativos centrados na dimensão expressiva da fotografia, questionando a sua essência, a sua pertinência na actualidade e o seu futuro enquanto meio de expressão artística. O seu trabalho, comprometido com a dimensão poética da realidade, inscreve-se na linha do que François Soulage identifica como sendo as três sub-categorias da estética fotográfica: a estética da encenação, a estética da ficção e a estética do referente imaginário.
claramoura1954 @ gmail.com
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FÁTIMA LOPES
Natural de Cantanhede onde vive e trabalha como professora de Educação Especial. Divide a sua atividade entre a docência e a Associação fotografARTE dedicando o seu tempo livre à Fotografia. Dando vários usos às suas fotografias, gosta particularmente de a usar em processo criativo. A CRIATIVIDADE não é uma competência rara, é um aspecto fundamental do ser humano. O ato de criar através da fotografia pode ser um ato de reflexão, de comunicação e de maior descoberta pessoal e social. Investe na leitura e formação na área da Fotografia. Participou em exposições coletivas e este é um dos seus 5 trabalhos de desenvolvimento na área da fotografia.
mfatima.lopes @ gmail.com
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TERESA VALENTE
Natural de Moçambique, tem com ela até hoje as memórias de uma vida que acredita não ser capaz de expressar por palavras. São as sensações, as paletas de cores, os acordes sonoros, cheiros e imagens que alimentam a memória daquilo que parece ter sido uma outra realidade. Hoje, residente na Pocariça e bancária de profissão, é na fotografia que encontra o recurso para explorar os significados dessas memórias. O seu trabalho situa-se na fotografia poética e na fotografia de cena, utilizando formas, cor e luz para criar as suas obras. Com uma década no trabalho fotográfico, o seu percurso formativo tem sido constante. Tem participado, com várias formações, em exposições coletivas e individuais e em publicações, nomeadamente, com o coletivo Pescada nº5 (desde 2016), onde o site specific é um dos temas de maior relevância. Tem, entre várias publicações, um livro foto-poético publicado por Carlos Dias em 2021. Entre outros trabalhos de fotografia cénica, participou com a actriz independente Graça Ochoa em Coprodução com o Serviço Educativo do Teatro Municipal do Porto e Circolando. Atualmente, encontra-se a trabalhar com a companhia de teatro O Teatrão em Coimbra. O seu trabalho já foi reconhecido em prémios nacionais e internacionais.
teresammvs @ gmail.com
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MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA
Natural de Lisboa. É editora e dedica-se à descoberta e divulgação de novos autores portugueses. Como poeta, estreou-se em 1996 com A Casa e o Cheiro dos Livros, a que se seguiram O Canto do Vento nos Ciprestes e Nenhum Nome Depois. Também é autora do romance Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu e de duas séries de livros juvenis adaptados à televisão. Recebeu vários prémios literários. Mantém o blogue Horas Extraordinárias no qual partilha diariamente a sua paixão pelos livros.
www.horasextraordinarias.blogs.sapo.pt
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CARLOS DIAS
Natural de Moçambique, vive em Coimbra. Com formação em Tecnologias de Informação, trabalhou 13 anos no desenvolvimento de software. É Consultor Web em Usabilidade e Acessibilidade, designer gráfico e desenvolve sites com WordPress. Na Fotografia, é autodidacta desde 1985. A partir de 1992, participou, como autor, em 27 exposições individuais e colectivas em Portugal, Espanha e Bélgica. Orienta oficinas de fotografia para criação de projectos fotográficos, desde a concepção, à impressão das imagens, incluindo a edição de foto-livro e a realização de exposição com os trabalhos dos participantes. Disponibiliza serviços de digitalização de negativos e diapositivos, bem como de impressão de fotografias em papéis fine art. Publicou, como autor, três foto-livros, e como editor e co-autor, quatro foto-livros, entre os quais o “O meu amor não cabe num poema” que está na génese desta exposição. Encara a Fotografia como uma Arte do Olhar, que o desafia e inspira.
carlos @ carlosdias.net
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O POEMA
O meu amor não cabe num poema – há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto –
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer – é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome – é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
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Pedreira, Maria do Rosário (2001, 2012).
“O meu amor não cabe num poema”, in: O Canto do Vento nos Ciprestes. Lisboa: Gótica: p.18. e Poesia Reunida. Lisboa: Quetzal: p.94.
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APOIO:
Centro Cultural Penedo da Saudade
Av. Doutor Marnoco e Sousa, 30
3000-271 Coimbra
+351 239 791 245
cultura @ ipc.pt
GPS: 40º12’17.1”N 8º24’56.5”W
Coimbra, 1.Março.2024